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segunda-feira, 18 de abril de 2011

Trânsito, hipocrisia e individualismo.



As mortes e a sensação de insegurança em nossas cidades e estradas colocaram o trânsito no centro dos debates e acenderam faróis sobre mais uma faceta da hipocrisia de nossa sociedade. Autoridades respeitadas abordam as várias causas possíveis, desde as desigualdades sociais - tecla utilizada para absolvição prévia dos indivíduos sobre seus atos - às condições da infra-estrutura dos meios circulantes até a ineficiência do aparato policial.
Nesta análise do contexto social é interessante reconhecer um comportamento típico brasileiro de adotar dois pesos e duas medidas caracterizado, popularmente, como "a lei de Gérson", para a resolução de demandas sociais que nos envolvem. Gostamos de leis que nos protejam e assegurem nossos direitos, mas não necessariamente gostamos de respeitar estas mesmas leis.
São muitas as histórias de pais que "defendem" seus filhos contra professores e instituições, sem discutir o mérito e a legitimidade dos seus respectivos atos, apenas para exercer um poder protecionista exagerado, sustentado na velha regra "sabe com quem está falando?". Ou então, ignorando que muitos não estudam, bebem, muitas vezes se drogam, são violentos e dirigem imprudentemente, incluindo menores sem a devida habilitação.
Qual a repercussão dessas atitudes para a cidadania? Se não a de evidenciar que seus filhos estão acima da lei, impunes diante das normas e instituições? Esses pais estão, em verdade, abdicando de sua paternidade responsável.
A hipocrisia de fazer de conta, de vender a irrealidade para os filhos, envenena todo um sistema com a idéia de um individualismo extrapolado, cujo limite é a fatalidade. Toda essa "cultura" desemboca nos espaços sociais onde o trânsito é, seguramente, o maior deles. Assim, a mortandade no trânsito é só uma conseqüência, um tipo de espelho social.
Que sociedade será esta que estamos construindo, centrada na desigualdade de direitos perante a lei, uma espécie de "lei do mais forte", parecendo uma hierarquia de castas privilegiadas, como um modelo indiano ocidental. Em verdade, estamos cada vez mais distantes dos princípios em que se baseia a sociedade americana - que tanto gostamos de copiar - , para a qual o maior fator de igualdade e talvez o único assegurado para todos seja a garantia da igualdade civil e política de seus cidadãos.
Numa sociedade com tantas disparidades sociais, de informação e educação como a nossa, se ainda for adicionado este poder discricionário, advindo de nossa hipocrisia histórica, as chances de convívio harmônico ficam bastante reduzidas. Não são as classes sociais os fatores determinantes que explicariam os arbítrios, porque em todas elas existem pessoas de bem e transgressores, mas são os atos dos indivíduos que os desqualificam e os desnivelam como cidadãos.
Por isso, não é justo transferir todo o problema para as autoridades, para as escolas ou até para as vias públicas, se continuarmos tratando os infratores como indivíduos incapazes de fazer escolhas, de tomar decisões e ser responsáveis por elas.
Enquanto perdurar essa cultura da hipocrisia, que seguramente começa no exemplo dos lares, convivemos com o problema em questão atuando no seu entorno, sem enfrentar a dolorida verdade de assumir a nossa cumplicidade com as manchetes que nos assolam cotidianamente.
*Mestre em Ciências Sociais
Luiz Fernando Reginato
  
Postado por : RONDA MGR

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